Contar histórias de amor é algo de banal, importante para quem as vive mas, para os outros, são recordações que se diluem rapidamente no tempo. A história que vou contar inseria-se nesse role não fora o caso de deixar estranhas sementes.
Tal como muitas das boas histórias começa por era uma vez.
Era uma vez uma bela australiana, alta, esbelta, pele branca e acetinada que se apaixonou por um beirão baixo e atarracado, pele escura, gretada e grossa. Dizem, quem a conheceu, que o que mais a atraiu foi o facto de, quer no pino do calor do verão, quer nos dias mais frios do Inverno o nosso beirão mostrar-se quase indiferente aos rigores climatéricos.
A nossa australiana, embora habituada aos calores da sua terra, no Inverno, tremia a bom tremer com aqueles frios do interior vindos de Espanha. E tremia e chegava-se, cada vez mais, àquele beirão de pele escura e grossa. Tanto se chegou que, inevitavelmente, daí medrou um rebento que, ainda hoje, pode ser visto nas Termas de Monfortinho.
Da bela australiana e do atarracado beirão o povo perdeu-lhe o rasto misturados que foram na quantidade de eucaliptais e sobreirais existentes na região.
O rebento, porém, é hoje uma majestosa árvore, alta e esguia como a mãe mas com a pele grossa e gretada como o pai.
A singularidade do eucalipto-sobreiro despertou a incredulidade do povo da região e foi de tal forma que lhe arrancavam bocados da pele para verificar se o eucalipto estava mesmo revestido de cortiça.
Como o eucalipto-sobreiro vive numa mata pertencente a uma grande unidade hoteleira, esta, para o proteger, cercou-o com uma vedação de arame.
E, assim, ironia do destino, foi necessário uma vedação de arame para preservar a recordação de um singular amor.
Vítor Manuel
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